Morreu esta madrugada Álvaro Laborinho Lúcio, uma das personalidades mais marcantes da vida pública portuguesa das últimas décadas. Antigo Ministro da Justiça, nomeado em 1990 durante o governo de Cavaco Silva, e Ministro da República para a Região Autónoma dos Açores entre 2003 e 2006, durante a presidência de Jorge Sampaio, Laborinho Lúcio deixa uma herança de integridade, inteligência e humanismo que transcende os cargos que desempenhou.
Natural da Nazaré, onde nasceu a 1 de dezembro de 1941, foi sempre um homem profundamente ligado à cultura e às artes. O teatro marcou-lhe a juventude — foi membro fundador do Teatro da Zona, onde atuava como amador, num gesto que espelhava desde cedo a sua sensibilidade artística e a sua paixão pela expressão humana.
Licenciado e mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Laborinho Lúcio destacou-se como juiz conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça, de onde saiu jubilado, mas nunca retirado da vida pública ou intelectual. A sua voz e o seu pensamento continuaram a iluminar reflexões sobre justiça, cidadania, ética e educação.
Em outubro de 2018, no XIV Congresso Nacional dos CFAE, que ocorreu na Fábrica de Santo Thyrso, brindou a vasta plateia com uma brilhante comunicação subordinada ao tema Educar para a cidadania e cultura democrática, comentada por Carlos Magno. Foi uma das muitas ocasiões em que o seu discurso, profundo e inspirador, convidou todos a pensar a formação e a educação como pilares da democracia.
Mais recentemente, em setembro de 2024, esteve em Mondim de Basto, no Favo das Artes, a convite do Centro de Formação de Basto. Acompanhado pela galega Uxía Domínguez, participou numa iniciativa comemorativa dos 50 anos da Revolução dos Cravos, uma celebração da liberdade, dos valores democráticos e do diálogo, causas que sempre defendeu com convicção e lucidez.
Álvaro Laborinho Lúcio foi um verdadeiro homem da cultura e da educação, um intelectual singular que conciliou a profundidade do pensamento com a proximidade humana. A sua palavra, sempre serena e firme, inspirou gerações de professores, magistrados e cidadãos. O seu humor subtil, a sua generosidade e o seu compromisso com o bem comum deixam uma marca indelével em todos os que com ele privaram ou escutaram as suas palavras.
Bem-haja pelo que partilhou, pelo pensamento que nos legou e, sobretudo, pelo excelente ser humano que foi, um homem de sabedoria, humor contagiante e generosidade sem medida.






